Quinta da Alorna
Um futuro promissor… com a memória do passado

Um dos maiores e mais importantes produtores do Ribatejo, a Quinta da Alorna, encontra-se em fase de expansão. Até 2010 vai investir mais 1 milhão e 800 mil euros na modernização da adega e, a nível comercial pretende pelo menos manter o volume de negócios, que tem aumentado. Um futuro promissor que, no presente, respeita a memória do passado.

Reportagem: Patrick Neves

Localizada à beira Tejo junto à via de acesso a Almeirim, a 45 de minutos de Lisboa e 20 do novo aeroporto, a Quinta da Alorna é uma empresa familiar de gestão profissional, detentora duma propriedade de 2800 hectares onde congregam diversas actividades – agricultura, floresta, vitivinicultura, coudelaria, imobiliária e enoturismo. A sua fundação remonta a 1723, ano em que foi adquirida ainda sob o nome Vale de Nabais pelo primeiro vice-rei da Índia, D. Pedro de Almeida, que após ter liderado em Goa a conquista da praça-forte de Alorna a rebaptizou, tornando-se no I Marquês de Alorna. Actualmente, é administrada pela quarta e quinta gerações da família Lopo de Carvalho, descendente de Manuel Caroça, tendo reservados à vinha 220 hectares, enquanto que 1900 são de floresta (eucalipto, pinheiro manso e sobreiro), 500 de culturas agro-industriais intensivas (batata, beterraba, cenoura, ervilha, fava e milho) e 180 são ocupados com áreas sociais. Do conjunto destaca-se, de um lado, o palácio de traça original da primeira metade do século XVIII e a frondosa entrada e jardim de árvores centenárias, e, do outro, os enormes plátanos que ensombram os escritórios e a atraente loja, visível da estrada.

Investimento na modernização e capacidade da adega
Este ano e até 2010, com o empenho do enólogo Nuno Cancela de Abreu e da filha Renata, que assume o departamento comercial, a Quinta da Alorna está a fazer avultados investimentos na modernização da adega e no aumento da capacidade de processamento até 3 milhões de litros. De 2001 a 2008 já haviam sido aplicados 3 500 000 euros, aos quais agora acrescem mais 1800 000, o que em 2008 reverteu numa facturação de 3,6 milhões de euros, dos quais 70% se devem à comercialização de tintos e rosés e 30% aos brancos. Isto traduz-se num crescimento de 57% no volume de negócios, o que a nível nacional representa 43% (com aumento de 8%), e a nível internacional representa 57%, com crescimento de 200%. Presente em 18 mercados internacionais – Suécia, Alemanha, Canadá, Angola, Bélgica, Suíça, Polónia, Reino Unido, EUA, Brasil, São Tomé, Macau, China, Finlândia, Dinamarca e Malásia – tem tido um impulso em muito provocado pela conquista de 3 tenders em monopólios da Suíça e Canadá mas também pela consolidação da marca.
Do seu jardim de 27 castas, onde se implementam testes de adaptação ao terroir (de solos pobres e secos), fazem parte as tintas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Cabernet Sauvignon, Syrah, Castelão, Trincadeira, Tinta Meuda e Alicante Bouschet, e as brancas Arinto, Chardonnay, Fernão Pires, Trincadeira das Pratas, Verdelho e Marsane.
Do portfólio de vinhos, tanto em Portugal como no estrangeiro, o que tem mais expressão é o regional de gama média Quinta da Alorna (tinto, branco e rosé), embora produza também as referências Cardal (regional tinto, branco e rosé), Portal da Águia regional e DOC (incluindo Reservas), Quinta da Alorna Reserva (branco, tinto e Chardonnay) e Casa da Alorna Colheita Seleccionada. Tem ainda disponíveis os DOC monovarietais Quinta da Alorna Arintho, Castelão e Cabernet Sauvignon, bem como o Quinta da Alorna Colheita Tardia (100% Fernão Pires) e o vinho de mesa Abafado 5 Years, de aroma doce a figo e frutos secos. Azeite virgem extra e vinagre produzido a partir de um vinho branco aperitivo seco da casta Cercial completam a gama.

Acções no estrangeiro a dar frutos
No top de vendas está o Quinta da Alorna Branco, produzido com Arinto e Fernão Pires, e o blend Quinta da Alorna Tinto de 4 castas: Tinta Roriz, Castelão, Syrah e Alicante Bouschet. Segundo Renata Abreu “são vinhos best-seller em vários pontos do mundo e as investidas em novos mercados, nomeadamente no Oriente, começam agora a dar frutos”. “Normalmente acompanhamos as acções da ViniPortugal no exterior, feiras internacionais como a Prowein na Alemanha e a Vinexpo em Bordéus e vamos a outras não tão regularmente na China e noutros países. Um exemplo disso foi a presença numa feira agro-alimentar em Xangai, as provas regulares em Macau e Hong Kong, e um certame dirigido ao consumidor final na Holanda”.
Segundo Renata Abreu “o principal intuito é conquistar a confiança do consumidor e conhecer as exigências do mercado e, em 2009, apesar de se sentir alguma contenção nomeadamente nos países mais desenvolvidos que compravam um mix alargado de produtos, pretende-se manter o nível de vendas que o ano passado se situou nos 57%”.

Vinho licoroso Abafado 5 Years
Apercebendo-se do potencial comercial do seu vinho de mesa licoroso, produzido desde sempre na quinta, a Alorna lançou recentemente no mercado o Abafado 5 Years (PVP recomendado de 4,99 euros), com rótulo e contra-rótulo impresso numa só etiqueta, originalmente exposta na parte da frente da garrafa, a imitar papel picotado. Tal como refere Nuno Cancela de Abreu “a proposta foi feita à distribuidora Vinalda pois é um vinho muito apetecível que pode ter uma dimensão nacional dada a excelente relação qualidade/preço. Tem aumentado as vendas na nossa loja e, por enquanto, colocámos no mercado 10000 garrafas, que vão sendo repostas à medida das necessidades”.

A importância da indicação Tejo
Fazendo parte do conselho geral da actual direcção da CVR e tendo consciência da força da designação Tejo, Nuno Cancela de Abreu considera que “esta é uma oportunidade única para fazer um restyling da região e acabar duma vez com o preconceito da marca Ribatejo”. “A nova imagem imprime dinâmica e uma nova maneira de estar no vinho, existindo já muitos players locais com vinhos de qualidade que vão aproveitar este nome, que dá uma imagem de localização e é mais facilmente pronunciável no estrangeiro. Também é muito importante o facto de os vinhos regionais e DOC passarem a ter a mesma designação”.

Futuro resort e melhor oferta enoturística
A par do aumento da capacidade produtiva e da reestruturação das vinhas mais antigas (30 anos), a Alorna prepara um ambicioso projecto imobiliário que ocupará 700 hectares dum antigo pinhal. O empreendimento incluirá resort e um conjunto de pequenas quintas para construção habitacional que deverão aproveitar a edificação do novo aeroporto. “Trata-se dum projecto a médio longo prazo direccionado mais para o público irlandês, inglês e alemão, e ainda estamos à procura dum parceiro” revelou o enólogo, referindo-se ainda a outros atractivos da quinta. “Para além dos vinhos e da oferta enoturística que pretendemos inaugurar, temos os veados e os cavalos na Escola de Equitação, comandada por um campeão nacional de dressage que promove cursos e outras actividades, bem como a agricultura que, ao contrário do que muitos dizem, é-nos rentável”.